quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

QUINTAS- 41

ALADOS  ESCRITORES NO ESPÍRITO DA ÉPOCA

A ampliação do conceito de escritor é uma novidade contemporânea, e certamente afilhada da tecnologia.
Houve um tempo em que a ideia de ser escritor estava vinculada ao sujeito que fazia livros. Escritor era aquele que publicava, editava, lançava um livro. "Eu sou escritor, então tenho que lançar livros, produzir livros, escrever livros!"...
Alguns ainda pensam assim:  o escritor deve é lançar livros, escrever livros, cada vez mais. Sim, isso também, mas o conceito foi alargado, a semântica se expandiu.
Hoje o escritor é bem mais. De certa forma, sempre foi, porém todos os afazeres ficaram de certa forma ocultos. Escritores e poetisas foram jornalistas, escreveram crônicas em jornais e fortaleceram com o viés da literatura o matutino espírito do leitor. Além disso, como cidadão, todos os escritores tiveram vidas próprias, e foram políticos, uns mais, outros menos. Alguns até abraçaram a carreira política, no futuro vieram a se arrepender. Jorge Amado bem disse que a sua mais fraca fase de produção literária foi quando esteve envolvido com partido político, mas isso é outra história.
Ocorre que com o advento da tecnologia e a informática inaugurando uma nova era, que está gradualmente substituindo a era humanista, a enterrando de vez, o conceito de escritor expande-se de forma formidável.
O escritor que acreditar que a sua função, ou missão, será unicamente a de fazer livro, estará ultrapassado pela expressão da voz dos tempos.
Não que o livro deixará de ser importante, isso não. O livro continuará tendo a sua importância, seja para enfeitar algum móvel, seja para transformar uma pessoa. O que acontece é que o escritor hoje lida com as múltiplas linguagens da arte e da palavra. Ele tornou-se um ser de atuação, terrivelmente envolvido com o seu tempo e o seu dizer. Além de escrever, fazer livros, terá o seu blog, o seu site, promoverá a poesia e a arte, a palavra e os sonhos. Divulgará a literatura do seu contemporâneo, a literatura que quer-ser-lida, de seus iguais.  E assim, fará, pois já está sendo transformado numa múltipla oficina sem retorno.
Assim como desmoronou e não cabe mais uma torre de marfim, é possível dizer que escritor é o sujeito que milita na palavra, na escrita, que expõe o seu pensamento e o seu sonho literário em colunas, de jornais, de revistas, em sites e blogs...
Escritor é também um crítico literário, um divulgador da cultura. E o escritor que tiver o seu espaço na internet, por exemplo, para divulgar apenas a sua obra, para falar apenas de si, certamente terá fama passageira, o seu nome será efêmero. Viverá na ilusão de que o espírito da época ainda anseia pelo "Escritor", ou seja, aquele que é só ele. A transformação que alguns já se deram conta é que só sobreviverá aquele que cedeu à própria condição de ser alado, e voa sobre as cidades espalhando a sua verdade: a literatura tornou-se algo além de si, universalizou-se de vez, anuncia o novo tempo, onde o ídolo não cabe, o escritor só-para-si já se foi. Em seu lugar um novo se multiplica em doces teceres. Sem se perder.


MARCIANO VASQUES

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