quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vice-Versa de fevereiro de 2011



Meus caros,
O Vice-Versa de fevereiro de 2011 reúne Angela Leite de Castilho Souza da regional AEILIJ de Minas Gerais e Márcia Széliga da regional do Paraná.
Muito obrigada pela participação!
Beijos,
Regina Sormani




RESPOSTAS DE ANGELA LEITE


1) Você é uma artista de dois caminhos também. Como o transbordamento de seu universo de imagens e palavras encontra uma síntese tão precisa para dizer tudo?

Será porque eu conheço bem a autora do texto? Agora, a sério: em primeiro lugar, obrigada por esse “tão precisa”. Acredito que acontece um processo inconsciente, paralelamente ao trabalho racional e suado de criar textos e ilustrações. Ou seja, mais ou menos 40% de inspiração e o restante, transpiração. Isso me leva a pensar que a síntese a que você se refere acontece em parte sem o meu controle. Escrevo a história ou os poemas e, quando vou ilustrá-los, percebo as possibilidades subjacentes ao texto, justamente aquelas que não explorei ao elaborá-lo. Mas ainda aí, nessa etapa, imaginação e razão continuam se alternando no esforço de encontrar a correspondência entre as duas linguagens.

2) Como as palavras te encontram para que sejam bordadas e o que te dá mais prazer?

Quando se trata de ilustrar meus próprios textos, as palavras, como disse anteriormente, já “me encontraram” em alguma dimensão. Só que tento vê-las com um olhar de estranhamento, de descoberta. O processo é semelhante ao que uso para ilustrar texto alheio, só que, neste caso, tenho um cuidado ainda maior, para não apenas sublinhar com minhas imagens, mas também não contradizer, a essência do pensamento do escritor. Agora, quanto ao prazer, ambas as formas de criação me realizam, mas acho que me sinto mais feliz com as agulhas ou pincéis entre meus dedos do que quando eles estão sobre o teclado do computador, esperando que retorne alguma palavra fujona...

3) Suas imagens bordadas alguma vez inspiraram, num caminho inverso, as palavras?

Ainda não fiz essa experiência com meus próprios desenhos ou bordados, mas por duas vezes ilustrei com palavras as imagens de um outro autor, Walid Malek. Ele havia criado suas histórias visuais e me convidou a desenvolver os textos. Foi um grande desafio: eu não podia simplesmente fazer legendas para aquelas narrativas; e nem podia fugir ou me afastar demais do enredo original. E, ainda por cima, o tema desses livros era a espiritualidade. Mas tanto o artista quanto eu ficamos satisfeitos com o resultado dessa parceria - “E depois?”, publicado pela Editora Lê, e “De volta para a luz”, pela Dimensão -, porque a impressão final, segundo leitores, é a de que o texto escrito é que teria dado a partida ao visual. Isto é, a inversão não acarretou uma artificialidade ao produto final.

4) O que te alimenta mais a alma: escrever ou ilustrar?

Embora eu já tenha dado anteriormente uma pista das minhas preferências, aproveito para me explicar melhor. Muitas vezes, ao escrever, sofremos a angústia da folha em branco, das ideias fugidias e da eterna insatisfação com a forma. Daí a habitual analogia desse trabalho com o braçal. Mas há também aqueles maravilhosos momentos em que o texto parece fluir diretamente da ponta dos dedos, sem que o mental interfira tanto. Já o pintar e o bordar, ainda que precedidos do exercício igualmente difícil de definir espaços, imagens e materiais, tem um lado tão prazeroso que, como outras modalidades de arte, é até recomendado para fins terapêuticos. O que sei é que minha alma busca com uma fome permanente essas duas expressões e se estas me propiciam pôr no mundo filhos saudáveis, ela, a alma, só pode corujamente sentir-se realizada.






RESPOSTAS DE MÁRCIA SZÉLIGA


1)Uma imagem vale sempre por mil palavras?

Penso ser de mesmo peso e medida. Uma única palavra dita num momento exato pode nos atravessar, desferir um golpe, derrubar ou ser a chave que abre nosso coração, nossa alma, as portas do universo, assim como uma só imagem pode ser banal para uns, imprescindível para outros, agressiva ou, com outros olhos acolhedora, e guardar um segredo, uma grande história que as palavras não seriam suficientes para defini-la.
Agora, pode existir uma única palavra que vale por mil imagens.
Eu tenho a minha. Cada um deve ter a sua ou um dia há de encontrar...

2)Você teve uma formação toda voltada para as artes plásticas e esta tem sido sua área de trabalho preferencial. Como nasceu a escritora?

Na adolescência eu já gostava demais de escrever. As aulas de língua portuguesa e redação estavam entre as minhas preferências. Escrevia o que não era capaz de dizer, e assim descobri a metáfora e arepresentação daquilo que não haviam palavras para explicar. Mas precisava metaforizar mais ainda, então transferi essa forma de expressão ao desenho, acreditando que o desenho era capaz de falar sobre as entrelinhas numa expressão de corpo, de fisionomia, de atmosfera das cores e sombras. Verdade é que sempre busquei desenhos que fossem falantes por eles mesmos.
Mais tarde, essa escritora adormecida voltou. Primeiro numa brincadeira de quintal com as crianças, depois no compartilhamento de palavras com os especiais habitantes do universo literário. E descobri então que expressar através das letras desenhadas é também uma séria e feliz brincadeira maravilhosa.

3)Qual das duas atividades é mais prazerosa (ou menos sofrida...) para você?

As duas são prazerosas. A diferença é que escrever não tem compromisso de cumprir prazos apertados, quando estes existem (pelo menos ainda não experienciei isso a não ser em redação de vestibular, rsrsrs). Porém, esperar por um texto para ser escolhido pode durar um prazo indeterminado... ou o fundo de uma gaveta.
Por fim, se desenhar é se colocar em meditação, escrever é estar em oração.

4)Você acha que o ilustrador tem uma função além daquela que etimologicamente deu origem à profissão – iluminar um texto?

Bom saber que ilustração ilumina um texto, não? Mas sim, acredito que vai muito além disso. Se a ilustração é capaz de embelezar o livro, é também capaz de falar por si só das chaves que o texto traz, das portas que podem ser abertas além da imagem e da palavra. Dos caminhos que a percorrer dentro de si e diante da Vida ao encontrar identificação no casamento imagem/texto que não se encerra num começo-meio-fim de um livro. Mas também existem palavras que dão mais brilho às imagens, não? E não podemos esquecer do silêncio, tão precioso nas pausas quanto na ausência de imagem. No silêncio de imagem e palavra encontramos uma especial presença que não tem som ou forma que defina. Um vazio preenchido.

2 comentários:

  1. Ótima matéria com duas autoras que admiro demais.
    Rogério Andrade Barbosa

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  2. Parbéns, lindinhas! Vocês são ótimas.
    Bjs da Laura Bergallo.

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