quinta-feira, 15 de março de 2012

Vice-Versa de março de 2012


Caros amigos!

Em março, temos o prazer de receber as entrevistas de JP Veiga e Angela Leite de Souza, ambos escritores e ilustradores. Angela é associada da regional mineira da AEILIJ e JP associado da regional RJ
Obrigada pela participação e um beijo grande.
Regina Sormani



Respostas de Angela Leite de Souza



1 - Dizem que quase 100% dos escritores não sobrevivem da literatura e que quase 100% dos ilustradores (sobre)vivem dela, o que você, que joga nas duas, tem a dizer sobre isso? 


R – Não há dúvida de que a ilustração rende a seus autores um retorno financeiro maior, senão mais imediato. Ou seja, o trabalho é invariavelmente pago e, quase sempre, contra   sua entrega. Já o livro, de cujos direitos autorais sobre o texto deveriam viver os escritores, bem...esse tem uma trajetória imponderável. Na área de literatura infanto-juvenil, em que mais publiquei, raras são as editoras que propiciam um adiantamento ao autor, o que diminui os riscos ou, pelo menos, não o faz esperar por tempo indeterminado esse mesmo ganho. Enfim, jogar nas duas linhas é uma vantagem, sem dúvida, para quem busca viver de literatura.


2 - Sabemos que o primeiro haicai que vc fez, foi sobre o nariz da sua tia, conte-nos como vc dominou o haicai e porque vc gosta de escrever nessa técnica tão dificil? 


R -  Você simplificou demais: o nariz de minha tia foi somente uma rima desaforada que, com meus sete anos de idade, encontrei para a palavra Paris. Mas já era o embrião de algo que eu iria desenvolver mais tarde, como jornalista e como poeta – a capacidade de síntese. Se a poesia por si só é uma forma sintética, o haicai é o sumo da poesia. É uma espécie de instantâneo de um momento captado pela nossa sensibilidade e transmudado em três curtos versos. Só que eu não sabia que tinha o “dom de haicaísta” até que um outro poeta, Yacilton Almeida, leu alguns de meus poemas e detectou essa habilidade. Estava lançado o desafio. Então, pesquisando sobre a técnica e lendo haicais de vários mestres nessa arte, comecei a escrever os meus. Já consegui produzir o suficiente para editar quatro livros: Lição das horas, Três gotas de poesia, Palavras são pássaros e Tempos do tempo. Sem contar alguns esparsos, que estão no livro Estas muitas Minas, e um outro livro, ainda inédito, que se chamará “Ciclos”. Para mim, fazer haicais é um prazer e, ao mesmo tempo, um grande exercício. Porque não se trata somente de criar   um terceto qualquer: haicai, como eu procuro fazê-lo, isto é, seguindo a métrica e respeitando o espírito do gênero, não sai de estalo, exige cuidado e lapidação. Difícil é, depois de ter desenvolvido essa prática, escrever poemas mais longos.
3 - Olha, gostei tanto da sua pergunta que mando ela de volta: E vc? ilustra com palavras ou escreve com imagens? 
R - Perguntinha capciosa esta, não? Porém, no meu caso, eu posso dizer que já fiz isso, literalmente. É que fui convidada certa vez por um artista, Walid Malek, a criar textos para duas histórias que ele havia criado em imagens. Foi outro grande desafio. Tinha de escrever algo que tivesse íntima ligação com as ilustrações, mas que não fossem apenas legendas para elas. Textos, enfim, que se sustentassem sem as imagens e, ao mesmo tempo, as complementassem. O resultado foram os livros E depois? e De volta para a luz. Por outro lado, quando ilustro, procuro criar minha própria história paralela ou análoga ao texto escrito, seja ele meu ou de outro autor. Acredito, por exemplo, que os leitores de Um verso a cada passo, a poesia na Estrada Real, viajem comigo por esse caminho histórico somente “lendo” as ilustrações, pois, em certo sentido, elas “narram” uma história, a nossa HIstória. Falta agora eu empreender uma nova experiência – fazer um livro sem texto – para poder dizer que também escrevo com imagens. E ele já tem roteiro pronto, aguarde...
4 - Eu estava dentro de uma livraria, aqui no Rio e uma criança passou correndo com um livro na mão pedindo: Compra pra mim, mãe? Era um livro seu. O que eu senti vivendo isso, eu sei, queria era saber o que vc sente qdo isso acontece?

R – Bom, caro JP, só de saber que você presenciou essa cena já fico emocionada e, por que não? vaidosa à beça! Episódios como esse de vez em quando acontecem com a gente e são, como dizia o poeta Homero Homem, o “salário moral do autor”. Nada se compara, por exemplo, ao entusiasmo que senti na aluna de uma escola onde um livro meu tinha sido adotado. Declarou que tinha gostado tanto da história que, “se fosse cineasta”, faria um filme contando-a. Certa vez, fui bater papo com os alunos do 4º ano de  uma outra escola, que também estavam trabalhando um livro meu. Antes, porém, a professora me pediu para esperar um pouco, pois sua filha, que estudava no mesmo colégio, no 2º ano do ensino médio, queria me conhecer. Daí a pouco, voltou acompanhada de uma moçla que me abraçou trêmula de emoção e foi dizendo: “Sou sua fã desde que li Um jeito de viver na 5ª série! E quando mamãe disse que você vinha aqui, eu viajei na maionese... Eu  tinha de conhecer você pessoalmente!” Será que existe alegria maior que essa para um autor? Para mim, saber que alguma coisa que eu quis transmitir a um hipotético leitor atingiu tão fundo leitores de carne e osso, como diz aquele comercial, não tem preço.

Respostas de JP


1 - Não tem jeito, preciso fazer uma pergunta meio óbvia: como foi que você se descobriu escritor e ilustrador? Conte um pouquinho sobre essa dupla faceta.

R - Sempre quis ser alguma coisa ligada às artes, estudei Arquitetura e Desenho e Plástica - acabei sendo  Publicitário, Diretor de Arte e de Criação. Dentro disso, a ilustração sempre esteve presente, quando comecei a escrever livros de pano, comecei a ilustrar meus próprios livros, assim, no começo, como uma forma de cortar custos. Daí para escrever e ilustrar, foi um pulo. Hoje escrevo e ilustro ou só escrevo ou só ilustro, como fizemos no seu livro (lindo!) de Haicais!
Mas preciso te dizer que alguns textos meus, não consigo ilustrar de jeito algum. Textos escritos assim sob alguma emoção, ou com um caráter diferenciado, que tenha algo meu dentro, sei lá - esses, não ilustro - não consigo - aí, os amigos me ajudam!

2) Sei que você, como Fernando Pessoa, tem vários heterônimos. É só uma brincadeira de fingir essa múltipla personalidade artística, ou os outros João Pedros têm mesmo existência autônoma e produtiva?

R - Como Publicitário, escrevo discursos, projetos, campanhas, roteiros e tudo o mais relativo à marketing e publicidade. Mas, escrever por escrever, a chamada literatura, eu sempre escrevi e escrevo para crianças, tive uma editora de livros de pano, que existe até hoje e nela escrevi 25 livros infantis. Escrevo há muito tempo e fora um ou outro poema, minha redação sempre foi para ser lida pelos pequenos.
Bem, sempre achei meio estranha essa coisa de heterônimos. Fernando Pessoa escreveu com 72 nomes (alguns apenas pseudônimos, outros heterônimos) no Dicionário Aulete, está assim:
(he.te.rô.ni.mo)
sm.
  1  Liter.  Nome imaginário sob o qual um escritor cria obras de estilo, tendência e características diversas das suas, como se fossem de fato de outro autor: Fernando Pessoa criou biografias para seus heterônimos.
Quando eu comecei a ler a fundo o Pessoa, passei a conseguir diferenciar e até mesmo reconhecer um ou outro dos principais heterônimos. E, sempre achei mesmo uma coisa muito esquisita!
Um dia, fui convidado a escrever (na pré-história da internet) para um site de literatura. A editora do site me conhecia e já usava meus textos em publicações didáticas. Algum tempo depois, por conta disso e daquilo, me empurraram uma das editorias do site - que estava fazendo o maior sucesso. Eu tinha que escrever!!! Aí, tal qual aconteceu com o Padre Antônio Vieira, tive um estalo! Por que não escrever como um heterônimo? Aí nasceu o “Too loose Lautrec” um pintor que “cometia” poesia e textos incrédulos, às vezes nonsenses e quase sempre sem pé nem cabeça. Fez sucesso, mas morreu cedo - cirrose - fruto de uma vida desregrada e doida.
Mas, logo em seguida nasceu Mariz Conzê - mentiroso, cara de pau que rouba minhas histórias e diz que aconteceram com ele, é cheio de coisa com as mulheres e vive escrevendo versos de amor e sofrimento, um chato de galocha em termos de relacionamento - ele é o próprio DR (discutindo o relacionamento). E enfim veio o Variz da Meiga, gente boa, friburguense, planta e colhe palmas numa encosta de morro - diz que todo artista precisa delas! Este sim, escreve bem está acabando seu segundo livro (o primeiro você acha aqui - http://tinyurl.com/83jdgl2) e é um cara de livros e escrita, mas, também tem lá suas manias, uma delas é achar que está vivo, mas, conta meus casos como dele melhor do que o Mariz Conzê, que vive preocupado em rimar e tercetar.
Assim, vamos nessa trinca escrevendo.
Eu para as crianças, o Mariz mentindo e rimando e o Variz cheio de bossa, encantando as moçoilas (que nem pensem em chegar perto, a dona dele é brabuda mesmo!).
Nós 3 estamos aqui - www.eramosum.blogspot.com

3) JP, você ilustra com palavras ou escreve com imagens?

R - Boa essa pergunta - ela é tão boa que eu repeti para você - acho, apenas acho, que como dizem que uma imagem vale mil palavras, estou endividado! Porque já criei bem mais imagens do que texto. então preciso escrever muito mais.
Digo, meio que respondendo, meio que divagando, que para se ter a mão em ordem para o desenho, é preciso desenhar todos os dias - com a escrita é igual, se você não escrever, danou-se!
Agora, nada disso - nem o desenho nem o texto seguirão em frente sem a leitura e nisso, sou um ás! Fiz o primeiro curso de leitura dinâmica do Brasil; entrei pelo cano, porque passei a ler com muita velocidade (não aquela de passar o dedo e pronto!) e às vezes (quase sempre) tenho que ler um livro 2 vezes.
Quanto à pergunta (já enrolei bastante) acho que as duas formas são verdadeiras, escrevemos visando explicar as imagens e desenhamos tentando passar uma história. Logo, a meu ver fazemos as duas coisas!

4) Sua familiaridade, por força da atividade como diretor de arte, com as mídias eletrônicas o tem levado a editar livros digitais. Tendo em vista o crescimento rápido dessa nova vertente de publicação, como vê o horizonte próximo e longínquo da literatura?

R - Eu tive a sorte de, ao ganhar um concurso de pintura patrocinado pela IBM, pedir meu prêmio em computador - não foi possível, mas eles me alugaram um (pré-histórico) XT, tela colorida! incríveis 20 megas de HD - uma loucura... meus amigos vinham ver e ficavam impressionados com meu programa de pintura (photoalgumacoisa - do sistema DOS) daí para eu seguir dentro da informática, foi uma coisa natural. Quando ganhei meu primeiro Palm, há mais de 15 anos, comecei a procurar livros para ler nele. Existem (já há cerca de 18/19 anos) bibliotecas estaduais e federais (sites), de “livros virtuais” gratuitos, de domínio público, com autores como Machado de Assis, Eça de Queirós e tantos outros. Comecei a ler nesse suporte e lancei meu primeiro ebook com a amiga Carla Aka em 2001/2002 - http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/onze.htm era um romance estranho sobre o numero onze!  Como falei antes, eu não sabia, como não sei, escrever para outros que não as crianças, então, não conseguindo terminar o livro - pedi socorro à amiga escritora, que não só acabou, como deu uma boa mexida.
A coisa com os ebooks infantis começou com um pedido da AEILIJ para que eu escrevesse sobre os “livros virtuais”. Comecei a pesquisar e acabei me envolvendo. O ebook passa por cima de uma série de etapas do livro impresso, é o futuro hoje e ainda por cima é fácil de se transportar e ler.
Você sabia que alguns países europeus vão abolir o livro impresso para as escolas já agora, até 2016? Pois é... o ebook veio para ficar; não vai acabar com o livro impresso, da mesma maneira que o email não acabou com o correio nem a TV com o rádio. Mas, não se assuste se, em menos de 10 anos, comprar um livro de papel for coisa de gente do passado (eu entre eles!).
Fechando esse papo, gostaria de dizer que, sem ser “Pai” JPVeiga, posso afirmar que o futuro da literatura está nos independentes, está naquele que, sem nada a não ser sua vontade, vai escrever e colocar no ar um texto, que, se for bom será lido por milhares e se não for, ficará entre os zilhões de livros que flutuam sem pai nem mãe pela internet. A literatura como hoje a conhecemos, essa sim, está fadada a, darwinianamente se transformar em algo diferente, picotado, decupado, resumido e numa anacronia doida, ao mesmo tempo lotada, plena de informações e metadados.

quinta-feira, 8 de março de 2012

MURAL 27 - MARÇO DE 2012

NÚMERO 26 - JANEIRO DE 2012

O Mural é uma agenda cultural postada todo início de mês,
porém, editada ao longo do mês conforme os eventos surgem.
A agenda das bibliotecas é renovada semanalmente.
Amigo associado de qualquer cidade do Estado de São Paulo,
contribua...
aguardamos notícias dos eventos do interior.
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NOTICIAS DE ASSOCIADOS

Colega associado, de toda parte, se tiver uma noticia para nós,
por favor nos envie para que possamos divulgar.
Jamais se sinta desprezado;
sua noticia pode não estar aqui
porque não sabemos a respeito dela,
nos ajude. Obrigado

J P VEIGA

Primeiro lugar no portal nuvem de livros, aqui.


REGINA DRUMMOND

"Pessoal, acabou de ficar pronto meu livro novo, escrito com a querida amiga Rosana Rios: O DESPERTAR DAS TATUAGENS, pela Giz Editorial.
A pré venda já começou, no site da editora: www.gizeditorial.com.br
E você ainda ganha um brinde especial. Faça já o seu pedido!
Beijos e boa leitura!"


ALEX GOMES

CRIS ALHADEFF

3 livros de Alex Gomes foram selecionados para o pregão da Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza para compor as bibliotecas móveis nas salas de aulas do Ensino Fundamental!
Entre eles, dois ilustrados por Cris Alhadeff: Festa do Calendário e Condomínio dos Monstros, editados pela Editora Rhj.

FLÁVIA CÔRTES

"Meu livro "Pra Voar Mais Alto" (Editora Biruta, 2011) foi selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para fazer parte do Catálogo 2012 da Feira do Livro de Bolonha, na Itália.

Meus agradecimentos a todos que fizeram parte desse projeto, principalmente à minha editora Eny Maia, que apostou na minha loucura de misturar a narrativa com devaneios e um sonho que se repete, transformando meu texto neste livro lindo. : )

Abaixo, a tradução.

"A história deste livro parece traduzir a experiência de muitos meninos que, como Quequé, perderam o pai e tiveram que se adaptar a difícil realidade de conviver com o namorado da mãe. Contudo, utilizando-se de uma narrativa que transborda sutilezas e cuidado, a autora consegue ultrapassar o tema e apontar para outras soluções. Aprender a lidar com seus próprios sentimentos no limite entre a realidade e a fantasia pode ser uma alternativa bem mais interessante para um menino de 11 anos crescer. O design de cores fortes, com diferentes tipos de letras e desenhos de Camila Matos, enriquecem a história." "

http://fnlij.org.br/imagens/arquivos/catalogos%20bolonha/Bolonha%202012.pdf



SIMONE PEDERSEN

Premiada na Acadeia Caxiense de Letras





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OFICINEIROS E CONTADORES DE HISTÓRIA
Edital

Bibliotecas abrem inscrições para propostas de oficineiros e contadores de histórias

De 7 de fevereiro a 12 de março, estarão abertas inscrições para interessados em prestar serviços para a Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas como Contadores de Histórias e Oficineiros (nas modalidades “Oficinas Livres”, “Fanzines nas Zonas de Sampa” e “A Hora e a Vez do Vestibular).

Em cada edital, o proponente poderá inscrever até três propostas diferentes, que poderão ser entregues nas Bibliotecas Monteiro Lobato (região central), Viriato Corrêa (Zona Sul), Cora Coralina (Zona Leste), Mário Schenberg (Zona Oeste) e Álvares de Azevedo (Zona Norte). Cada local realizará inscrições em dias e horários diferentes, como indicado no edital. Para inscrições via Correios, será considerada a data da postagem.

Para cada proposta inscrita, deverão ser reunidas três cópias da ficha, do formulário e da documentação exigida no Edital. A Comissão Julgadora, a ser nomeada pela Secretaria Municipal de Cultura, classificará cada proposta como “habilitada” (credenciada) ou “não habilitada”, sem ordem de classificação. O resultado será válido por um período de 18 meses, renovável por 18 meses, a partir da publicação no Diário Oficial.

Neste período, a Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas contratará os profissionais habilitados para composição da grade de programação cultural de acordo com as necessidades de seus programas e projetos e disponibilidade orçamentária. A habilitação não garante a contratação.

Conheça os editais na íntegra e faça o download dos formulários nos links abaixo. Em caso de dúvidas, entre em contato por tel. 11 3675 6727 ou por email projetosbibliotecas@prefeitura.sp.gov.br


Edital nº 1/2012 - Oficineiros

Íntegra do Edital (formato pdf)
Ficha de Inscrição e Formulário do Projeto (formato word)


Edital nº 2/2012 - Contadores de Histórias

Íntegra do Edital (formato pdf)
Ficha de Inscrição e Formulário do Projeto (formato word)



Acesse nos links abaixo a relação de locais para inscrição e os endereços das Bibliotecas Públicas, Pontos de Leitura, Bosques da Leitura e Ônibus-Biblioteca administrados pela Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas.

Locais e horários para inscrição (formato pdf)

Endereços da Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas (formato pdf)


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PROGRAMAÇÃO DAS BIBLIOTECAS DE SÃO PAULO

CIIQUE AQUI PARA VER A REVISTA ONLINE

domingo, 4 de março de 2012

AVE MARIA

Sentei-me numa ponta 
para o arco-íris não ir embora


O meu sonho sempre foi ser freira ,chamar-me Maria. Mas, nasci com asas, sem ser anjo. Posso me aproximar de Deus, de outra forma. Consigo subir até Sua casa. Antes de a noite acordar, pela manhã, as irmãs libertam a respiração do convento pelas janelas: tum-tum, tum-tum! Escuto o coração do convento pulsando em reza. Ah! Se não fosse ave, seria freira! Como é encantador ouvir os passos delas, flutuando pelo piso frio do convento como se voassem sem abrir as asas. Logo, começam as xícaras de café a tocar piano e eu sinto o aroma do café.
O convento é um grande ninho onde moram anjos em forma humana. Gosto de sobrevoar os telhados e sentir o calor que erradia das suas janelas. O próprio sol visita as suas dependências e depois se esparrama pelos seus pátios e frestas. Fico tão emocionada que arrulho de encantamento.
Às vezes, sinto saudades do cheiro verde das matas e voo até lá. Como é extasiante sentir odores tão diferentes! A maresia que salga as narinas...o café  quente do convento. Os perfumes do banho dos humanos que andam de um lado para outro, como formigas trabalhadeiras.
Sou mesmo uma ave privilegiada, testemunho a história desse povo, todos os dias. De um lado, as doces beatas, do outro, o mar salgado, de bolhas molhadas. O vento traz folhas da mata que acariciam rostos humanos.O chafariz respinga lágrimas de felicidade nesse solo abençoado.
Outro dia, muitas nuvens se aproximaram do convento. Extasiada, deitei-me sobre o telhado e permiti que as as águas doces da chuva me banhassem de todas as minhas decepções. Eu aceitei quem eu era. Como havia seres humanos e animais, havia eu: ave. Tantos similares e tantos diferentes, convivendo com as árvores e mares, chuvas e risadas. Únicos e realizados. Filhos da natureza. Pais de nossos sonhos.
Eu sempre quis se freira. Mas, nasci ave. Acho que a vida foi muito generosa comigo. Não sou uma pomba qualquer. Sou uma ave brasileira, alegre como uma cigana, viajando entre o mar, a mata e a cidade, num tapete mágico movido a vento.
Sou uma ave maravilhada.
Sou uma ave desta terra santa.

Simone Pedersen

Simone é escritora associada da regional paulista da AEILIJ

sexta-feira, 2 de março de 2012

QUEM CONTA UM CONTO





Olá, tudo bem?

Neste mês de Março, quando as cinzas já encobriram o carnaval, nossa amiga, a escritora Galasso nos brinda com um trabalho para lá de criativo: uma imagem de praia, em São Sebastião/SP, tirada em dois tempos. Sobre ela, criou um mini conto.

Mergulhe também na imagem e crie sua própria versão.

Bom divertimento!





MEIA HORA



Em meia hora, Alcatrazes se vestiu de chuva. Era carnaval.