Capítulo XII
Final
O lobo
delimitou seu território, um território vasto e bem afastado, que podia levar
um dia inteiro para percorrer. Num dos limites passava um largo braço de rio,
onde sempre havia peixes, aves, insetos, moluscos. Por todo lado encontrava
fartura de caça e de frutos. Sempre havia novas plantas comestíveis crescendo,
pois o lobo em suas andanças, ao eliminar as fezes, espalhava sementes dos
frutos que comia.
Várias vezes a
lua mudou de tamanho no céu, indicando que o tempo passava e as estações mudavam.
Chegara o
tempo em que as folhas caem. No solo, elas apodreceriam para renovar os
nutrientes. Logo no começo, enquanto os animais pisavam nelas ou em algum galho
seco que caíra, provocavam estalidos. Era preciso cautela na hora de caçar ou
toda espera era inútil porque a presa conseguia escapar. Mais fácil era caçar
no capinzal, na faixa de terra plana, antes de chegar às margens do rio.
Certo dia, na
parte de campo aberto, num ponto afastado de seu território, o lobo avistou uma
coisa estranha. Ele estava no alto de uma colina, numa laje de pedra,
observando o movimento nos campos, em posição de alerta, à procura de uma
refeição. Nos territórios vizinhos, outros lobos faziam a mesma coisa.
Aquele bicho
estranho tinha patas que rodavam e olhos amarelos e brilhantes. Era enorme,
além de desconhecido, e foi chegando devagar. O lobo procurou um lugar onde
pudesse ficar bem escondido, mas continuou a observar.
De dentro
daquela coisa, saíram alguns humanos, com pele esverdeada muito parecida com a
dos lagartos. Eles abriram a barriga
daquele bicho que rodava e de dentro dela tiraram algumas coisas que colocaram
no chão. Ele não podia entender o que estava acontecendo. Era muito diferente
do perigo e muito diferente do que acontecera no lugar onde havia comida
pronta. Misturado aos cheiros estranhos, o vento trouxe um odor familiar.
Na planície os
humanos conversavam em voz baixa. Estavam preocupados, pois uma decisão
definitiva havia sido tomada. Eles cumpriam a missão de soltar naquela parte
mais protegida do cerrado os últimos animais que haviam criado em cativeiro,
para ajudar a repovoar o cerrado com animais saudáveis...
Depois de
alguns dias, ele cruzou novamente com Cacá.
– Soube do que
aconteceu, Toró? Temos novos habitantes por aqui. Eles vêm de lugares distantes
como sua mãe e têm uns nomes estranhos, como você e sua família, mas alguns
deles já estão adotando nomes locais.
O lobo ficou
curioso e disse:
– Gostaria de
conhecê-los.
– Qualquer dia
você encontra um deles por aí. Nunca se sabe...
Cacá estava
certo. Pouco tempo depois, já no meio do outono, o lobo estava caçando quando
avistou uma jovem loba. Ela era alta, com uma bela pelagem ruiva, um corpo
perfeito, rápida e esperta, linda demais. Além disso, ela era muito
desembaraçada e quando ele chegou perto, ela se apresentou sem rodeios:
– Olá,
estranho, meu nome é Tina! E você, quem é?
– Meu nome é
Toró, Heitor Toró, mas estamos no cerrado. Pode me chamar de Toró!
Aqui a história começa
Nilza Azzi
Nilza querida!
ResponderExcluirAdorei A história de Heitor. Parabéns, minha amiga.
Bjs da Regina Sormani