O cheiro de quentão e o footing na praça
Rico em datas comemorativas, o mês de
junho é um dos mais apreciados pelas crianças que curtem as festas juninas e
pelos namorados que festejam no dia 12 a sua data e no 13, dia dedicado a Santo
Antônio, o protetor dos noivos, conhecido como santo casamenteiro. Lembro-me
com muita alegria, das quermesses montadas, há vários anos atrás, na praça da
Igreja de Santo Antônio, na pequenina Agudos, interior do estado de São Paulo.
Ao chegar, éramos recepcionados pelo irresistível cheiro do quentão que vinha
das tendas montadas ao redor da praça. Meu favorito sempre foi o quentão da
Manuela, uma senhora simpática e muito querida pelos agudenses. O quentão,
bebida forte, era preparado com gengibre, canela, cravo e adoçado na medida
certa. A quermesse de Santo Antônio, caprichosamente enfeitada com bandeirinhas
coloridas, atraía uma multidão que se espremia para jogar bingo, praticar a
pescaria de brindes nas bacias, comer pipoca quentinha, amendoim torradinho,
milho verde, doces caseiros e várias outras delícias. Muita gente ia à
quermesse só para apreciar os moleques subindo no pau-de-sebo, um tronco de 4
metros de altura, envolvido com gordura animal. No topo, ficavam as cobiçadas
prendas.
Era também, muito divertido receber os correios-elegantes, mensagens
amorosas enviadas por admiradores secretos. Recebi muitos, graças a Santo
Antônio.
Nas cidades do interior praticava-se o footing. ( ir a pé, passear) Pra quem nunca ouviu falar, eu posso
explicar: os rapazes em busca de namorada, nas noites dos finais de semana
sentavam-se nos bancos da praça principal, formando grupos para apreciar as
garotas que por ali circulavam. As meninas, por sua vez, ao localizar o alvo, o
menino dos seus sonhos, sorriam e cochichavam a cada volta na praça. Na
quermesse de Santo Antônio, não era diferente. Como o espaço era reduzido, os
rapazes formavam duas colunas e no centro desfilavam as garotas, caminhando em
círculos. Tudo isso ao som das melodias regionais que invadiam a praça, vindas
do serviço de alto-falantes localizado nas dependências da igreja. Ouvia-se, a
todo instante:
– Fulano, apaixonado, oferece esta música
à sua amada, sicrana. Assim, começava o flerte,
um jogo, uma troca de
olhares que muitas vezes
se transformava em namoro e acabava em casamento, com as bençãos de Santo
Antônio, é claro.
Impossível não recordar os festejos de São
João, dia 24 e de São Pedro, dia 29, fechando o mês de junho. Nas fazendas,
chácaras e até nos quintais das casas, realizava-se a tradicional quadrilha com
o casamento caipira, e todo mundo se vestia a caráter. Em Agudos, na Colônia
Italiana onde nasceu minha mãe, a festa de São João tornou-se uma referência.
Dela participavam todos os tios e primos que lá moravam. A maior atração era o andar sobre as brasas. As
brasas da fogueira eram espalhadas num terreno especialmente preparado e um dos
meus primos, após fazer uma oração, caminhava tranquilamente sobre as brasas.
Ninguém me contou, eu mesma presenciei. Coisas de antigamente, boas pra guardar
na lembrança.
Desejo a todos um gostoso mês de junho.
Regina Sormani
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