Saia justa
Meu pai, Hércules Sormani, seu Lano para os amigos, foi, certa vez convidado para um almoço numa fazenda que ficava no
distrito de Paulistânia, hoje município, próximo à cidade de Agudos.
E lá foi ele, em companhia de um amigo, dirigindo seu
pequeno caminhão pelas estradas de terra. Naquela época, o asfalto ainda não
havia chegado por aquelas bandas.
Pra quem não sabe, lá no interior, o sortudo que é convidado pelo
dono da fazenda para um almoço, pode se preparar pra comer bem...e muito. A
mesa é farta, a bebida é de qualidade, a companhia é agradável. A música, lá no
fundo é a dos violeiros da região.Todos esses fatores conspiram para que o
convidado se empanturre, porque senão corre o risco de aborrecer o anfitrião.
Bem, depois de comer e beber, beber e comer, enquanto o companheiro de viagem
ficou à mesa proseando, seu Lano resolveu “esticar as pernas” e anunciou que
iria dar um passeio pelas redondezas.
— Não vá muito longe— avisou o fazendeiro— daqui a pouco vamos
servir o lanche da tarde!
Seu Lano foi caminhando, admirando a natureza, ouvindo os
pássaros e aos poucos se distanciou da
casa da fazenda. O sol do início da tarde queimava no lombo e ele olhou ao redor procurando onde
se abrigar. Viu, a poucos metros uma bela jaqueira já com os frutos despontando e para lá se dirigiu. Sentia-se sonolento pela caminhada e pelo excesso de comida. Notou que ao redor
da árvore havia cinco pedras de formato arredondado, faiscando ao sol. Debaixo da jaqueira havia uma boa sombra e
ele se sentou no chão, encostando-se no tronco da árvore. Fechou os olhos e
tirou uma deliciosa soneca. Meia hora depois, despertou, incomodado por um
ruído semelhante ao som de um guizo.
— Nossa! Isso tá
parecendo é guizo de cobra cascavel.— falou consigo mesmo, preocupado. Olhou em volta e percebeu que
algumas das tais pedras redondas haviam mudado de lugar, estavam bem mais próximas dele. Firmando a vista, já livre do
sono, constatou, assustado que havia dormido em companhia de cinco cascavéis Quem sabe, elas também haviam exagerado no
almoço e estavam lá, descansando para
fazer a digestão.
Com as pernas trêmulas, seu Lano criou coragem e se
levantou, lentamente pra não acordar as cascavéis. Não é preciso dizer que ele
chegou, afobado e atordoado à casa do fazendeiro. Bem que tentou contar o
acontecido, mas, ninguém quis acreditar e ainda caçoaram dele à moda caipira:
— Conta ôtra, cumpadi! Essa foi demais da conta!
Abração!!!!
Regina Sormani
Nenhum comentário:
Postar um comentário