A NECESSIDADE IMPERDÍVEL
A
revolta dos guarda-chuvas? O trem chegou atrasado? Meninos, o trem!
Se não há encanto nos olhos de encharcar é porque a época tem um
toque de tristeza que não pode ser desprezado. Comecei esta
“Quinta”, com livros de Sidonio Muralha, um dos mais fecundos
poetas para crianças. Dedicou sua vida apaixonante à literatura
infantil. Nasceu em Lisboa e viveu aqui no Brasil.
Recentemente
perguntei a uma menina de nove anos, se ela conhecia um poema de
Cecília Meireles. “Quem é essa?”, perguntou a pequena, que
aprende com uma velocidade estonteante tudo no celular. Jamais irei
alcançar em destreza tecnológica essa nova geração. E lá vem
Orkut, (quem ainda não se lembra?) e lá vai algo que no horizonte
nos aponta um pedido de pausa.
Cecília?
Nasceu no Rio de Janeiro, e foi criada por uma avó que cantarolava
tudo que era cantiga, e recitava ditados populares, e parlendava o
dia inteiro. Foi com ela que a menina aprendeu que “a vida é um
conto que acontece”.
Crianças,
não se sabe direito ainda se a vida é “Ou isto ou aquilo”.
Bartolomeu
Campos de Queirós, é tanta felicidade, menina, que só caberia
mesmo num poema.
Num
circo! Onde mais? Onde mais? Vá buscar seu coração na poeira da
tarde, vá nos capinzais, nas teias orvalhadas refletindo gotículas
de arco-íris, vá nas páginas de um livro. Um livro? É, nos
sonetos e versos de Carlos Drummond de Andrade. “Só fala de gente
que não conheço!”.
Veja,
no caminho da escola tem um mundo, tem um mundo.
Acredito,
e só acredito, eu, que aqui escrevo, numa educação poética, de
encantar meninas e meninos. Não tem mais espaço para tal coisa? A
realidade agora é sinônimo de velocidade, será que não percebo?
Fast
Food. O cinema não diz, não traduz. Os professores poderiam
causar a revolução essencial. Mais isso não acontece, então,
precisamos repensar tudo. Isso não acontece, mas é bom saber que
tem muitos professores com a alma repleta de poesia, minha pequena.
Tem
gente escrevendo em Portugal para crianças, tem na América Latina,
tem em todos os lugares do mundo, e aqui também, naturalmente. Temos
poetas, e dos bons, aos montes, menina, temos sim, meninos. A vida é
uma doce caminhada na calçada, criança, a vida é Quintana, é
mesmo, é um doce de Cora Coralina. Quando a poesia infantil adentrar
de vez na sala de aula, o coração de giz irá se expandir de tal
forma, que só quem for criança ou tiver o olhar repleto de espantos,
irá sorrir um sorriso de pedrinhas de brilhantes.
Se
alguém não souber por onde anda a poesia infantil, é só procurar,
e ela se abrirá em mil girassóis. Poesia infantil não brinca de
esconde-esconde. Ela está sempre onde uma criança estiver.
Marciano
Vasques
QUINTAS—
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Marciano, aquilo que vc falou a respeito da poesia infantil, foi, realmente, muito oportuno e feliz. Adorei!!
ResponderExcluirBj da Regina