quinta-feira, 6 de abril de 2017

Sampa que amamos - Sampoema 6

Virado à Paulista

A mais feminina
de todos os predicados masculinos:
grande, forte, colossal, imponente,
valente,
começa no embalo do paraíso
e acaba em braços augustos e angelicais,
desdenhando com seu jeito solene
os enormes arranha-céus
que fora do tom e do traço
competem com os deuses
pela ocupação do espaço.

Esta paulistana
de quatro costados
de quatrocentões, mansões e muitas razões,
oferece seu leito
e abre seu peito
impávida e democrática
para todos os prazeres,
todos os pés,
todas as raivas,
todas as alegrias,
todas as crenças,
todos os sexos,
todos os protestos.

Uma dona de história
que preservam tombada
tão cheia de brios, eiras e beiras,
uma arquitetura variada
de distraídas linhas retas
e merecidas linhas curvas
que se tocam paralelas
para o bem e para o mal
num orgulhoso cartão postal.

Avenida preferida,
eleita por votos sem coronéis,
não se curva à mediocridade dos painéis.
Velha de estrada,
recapeada pelo charme adolescente,
não aceita adágio
nem se rende a pedágio
e sabe de tudo
dos antigos festivais
aos novos carnavais.

Retrato colorido
em sépia, preto e branco,
faz ofertas de encanto:
a descida da Pamplona,
a subida da Augusta,
o cheiro umedecido do Trianon
- ah! é tão bom! -
a naturalidade juvenil do prédio da Gazeta,
o Conjunto Nacional,
da Casa das Rosas o perfume natural,
o cruzamento da Brigadeiro
e o vão livre do Masp.

E, nesse roteiro,
se mais é pedido,
tanto mais é oferecido:
o olhar mordido de dor
de boletos bancários
que se misturam com bilhetes de amor,
a fome de quem ama
com a raiva de quem deve,
a pressa de quem quer
com a saudade de  quem já era,
o sorriso de quem ganhou
com a paciência de quem espera,
o fogo de quem sonha
com as cinzas de quem beijou.

Um virado à paulista
assim é a paulistana avenida,
noite e dia de constâncias
das inconstâncias de todos os brasis.

Uma alma acelerada
que a todos encanta e acalma. 





Edson Gabriel Garcia