domingo, 27 de dezembro de 2009

PALAVRA FIANDEIRA 6

 NOVA EDIÇÃO DE PALAVRA FIANDEIRA!


PALAVRA FIANDEIRA Nº 6
CARMEN EZEQUIEL 
ENTREVISTA
NINO RALEIRAS

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Canto & Encanto da Poesia de Dezembro 2009





Estou apresentando nesta página, com muita alegria, a poesia das queridas amigas: Fabia Terni, Mariluiza Campos e Eliana Martins.

Grande beijo e obrigada.
Regina Sormani





Em Miniatura


Há um nanocristal que brilha
só um nanosegundo;
coisa de um novo mundo.

Um pedacinho de um átomo
mede-se por nanômetros,
um milionésimo de um milímetro.

São os novos anões
da ciência,
da Branca de Neve também,
trabalham, trabalham, trabalham
sem deixar nenhum sinal;
invisível a olho nu,
assim é um nanocristal.

Com a nanotecnologia
vão surgir mini robôs
que destroem mini micróbios,
portadores de grandes doenças.

Grande alegria pras crianças
tristezas em miniatura,
saúde em dose gigante,
rápido, num instante.

Quanto dura um nanosegundo?
muito menos que um instante.
Não é alucinante?

Fabia Terni
Publicada em Mosaico Coletânea Poética,
São Paulo, Editora Parma, 2008 pg. 62




A TRANSFORMAÇÃO DO GASTÃO


Tão gastador era o Gastão,
Gostava tanto de gastar e tanto gastava
Que cada dia que passava
O pobre ficava mais pobretão.

Mas eis que lhe apresentaram
A prendada e prestativa Diva.
Ela deixou a alma dele tão cativa
Que logo mais os dois se casaram.

Foi então que se viu o que faz o ardor do amor,
Como ele transforma e reforma,
E mesmo um inveterado gastador transtorna.
Gastão por paixão, corrigiu seu perdulário pendor!

Hoje – chega a ser cômico – ficou econômico!
Já não é mais mão-aberta
E muito juízo acoberta
O enlevo revelado por Gastão, ex-gastador crônico.

Mariluiza Campos


Eu, a meia e Papai-Noel


Ouvi dizer que papai-noel
pra todo mundo dá presente.
Todo mundo nada!
Nunca deu pra gente.

E olha que sempre pomos
pendurada na porta, a meia;
que nem todo mundo põe.
Mas ela nunca amanheceu cheia.

Tá certo que é meia velha,
mas limpinha, sem chulé.
Nela, pomos os pedidos,
os desejos e muita fé.

Ouvi dizer também que a fé
tira até montanha do chão.
Mas é só um presente que eu quero,
Papai-Noel,
não precisa tanta força, não...


Para meus queridos amigos de São Paulo,
com meus votos de maravilhosas festas!

Eliana Martins

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

PALAVRA FIANDEIRA

NO AR, A NOVA EDIÇÃO DE PALAVRA FIANDEIRA!



ENTREVISTA COM GLÓRIA KIRINUS
LEIA

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PÉ DE MEIA LITERÁRIO (4)


Edson Gabriel Garcia



Um Papai Noel de saco cheio!



Fico imaginando como seria a vida sem natais e sem papais noéis. Seria sem graça, já que o bom velhinho ajuda a encantar a vida de todos nós... ou seria mais interessante pois teríamos desde cedo a oportunidade de viver a vida como ela é? Pois é nunca consegui chegar a conclusão alguma. Aliás, desde os meus tempos de pai de filhos pequenos, convivi com essa dúvida cruel e atroz. Acabei optando, por razões nada originais, por desmascarar o bom velhinho, explicando desde cedo aos meninos e à menina que o papai Noel deles, bom ou ruim, era eu mesmo e que o presente desejado, tinha que ser desejado dentro dos limites possíveis e propostos, já que a grana para isso sairia do orçamento nosso. De qualquer forma curtimos bons natais, inventando outras formas de viver esses dias natalinos e noelinos. E todos eles (meus três filhos) sobreviveram e nem por isso são pessoas diferentes das outras.

Enfim, por essas e por outras, é que o tal Papai Noel – mesmo hoje que a minha barba branca e meu saco cheio me aproximam no quesito simpatia ao bom velhinho – nunca me desceu redondo pela goela abaixo (alguém poderá até insinuar que isto teria a ver com a minha infância pobre... trauma...etc).

O fato é que hoje, neste dezembro casmurrento, cheio de chuvas torrenciais, que viram pelo avesso minha doce Sampa e que não perdoam sequer as luzes natalinas, fico pensando se não podíamos arrumar alguma coisa bastante interessante para o Papai Noel fazer, já que cada vez mais o consumismo imposto e infartante tira da criançada o sabor da imaginação.

Pensei, pensei e descansei.

Pensei, pensei e ponderei.

Pensei, pensei e ... bingo! Claro! Por quê, não? Encher o saco do Papai Noel! Epa! Peraí! Não é isso que você está pensando. Estou falando de encher o saco do Papai Noel ,,, de livros! E sugerir a ele que passe o resto dos dias distribuindo livros de presente de natal para a meninada.

Oxalá dessa forma, mudando o destino do Papai Noel, mudaremos o destino do país, enchendo-o de novos leitores, fazendo crescer o nosso Pé de Meia Literário.

Para pensar e sonhar.



Sampa, dezembro de 2009

EDSON GABRIEL GARCIA fala sobre leitura e literatura em Várzea Paulista.





O escritor e membro da AEILIJ-SP EDSON GABRIEL GARCIA fez uma palestra, no dia 09 de dezembro, para os educadores da rede municipal de ensino do município de Várzea Paulista. Na palestra, o escritor, que também é consultor para programas de formação de leitores e de educadores, abordou a importância da leitura e da literatura na atuação profissional dos educadores. O evento fez parte da III Jornada de Educação, promovida pela Secretaria Municipal de Educação do município de Várzea Paulista. No local, o Espaço Cidadania, foi montada uma exposição com trabalhos dos alunos e professores da rede municipal, com destaque para várias atividades ligadas à leitura e produção de textos.


domingo, 13 de dezembro de 2009

Conto Coletivo


Primavera em Sampa é o primeiro de uma série de contos criados por escritores e ilustradores da nossa regional.Este conto foi escrito por: Eliana Martins, Nireuda Longobardi, Manoel Filho, Regina Sormani e ilustrado por Danilo Marques.


PRIMAVERA EM SAMPA

Ipês, azaléias, patas - de- vaca, marias - sem- vergonha, damas da noite, camélias, manacás e tantas mais...
Flores que desabrocham por todos os lados, anunciando que a primavera chegou, tomando conta dos jardins, parques e quintais da nossa querida Sampa.
Contrariando seu apelido de Selva de Pedra, em um canto escondido do Brás, zona pobre e fabril, onde as fábricas se distribuem, enfileiradas, uma pequena planta brotara timidamente. Dentre as tantas outras que haviam chegado com a primavera, ela
passara despercebida, não fosse o lugar e a forma como nascera: da rachadura da parede de uma casa abandonada.
Certamente, se a planta tivesse brotado do lado externo da casa, poderia absorver a água da chuva e do orvalho.
Mas, não! Ela nasceu para o lado de dentro. E vinha verdinha e forte.
Escurecia quando Claudenir chegou à casa. Deixou sua caixa de engraxate ali, na porta e foi conversar com Verdinha:
— Demorei, né, minha linda? Mas, já voltei! Olha aqui a sua aguinha....
Então, pegou uma velha caixa de manteiga cheia dágua e borrifou na planta:
— Eta gostosura!
Claudenir bebeu a água que restou. Seu estômago roncava. Vasculhou os bolsos e encontrou um único biscoito.
Enquanto comia, viu um ratinho no buraco da parede. Teve dó do pequeno que o observava. Tirou um pedaço do biscoito e depositou na saída do buraco. Ficou olhando o rato comer até que ele desapareceu na fenda.
Claudenir forrou o chão com um papelão que estava dobrado num canto da parede. Deitou, cobrindo-se com uma velha manta. Uma rajada de vento trouxe algumas flores que entraram pela janela quebrada, espálhando-se sobre o garoto.
Flores de um majestoso ipê amarelo que ocupava quase todo o espaço do pequeno jardim da casa abandonada.
Com um sorriso nos lábios, Claudenir deu boa noite à sua amiga Verdinha e ficou a pensar....
Deitado, observando a luz acesa dos apartamentos dos prédios vizinhos, imaginou que estava em outro lugar. Em casa, onde era o seu lugar, deitado na cama simples, porém, bem arrumada, com lençóis limpos. Podia até sentir o cheiro do chá de camomila que a mãe fazia antes de dormir e do qual ele tanto gostava.
O sono chegou, e nele, Claudenir embarcou, ainda sorrindo.
Mas, não era sorrindo que ele chegava aos seus sonhos. Esses tinham a péssima mania de trazer de volta o seu passado, lembrando-o das razões que o levaram até aquela vida. Talvez não precisasse dormir numa cama de papelão se não tivesse contado à sua mãe o que vira.
Como se arrependia do momento em que abrira a boca. Será que ela, algum dia, iria perdoá-lo?
Pensou em tudo o que acontecera. Lembrou cada detalhe do flagrante que dera no padrasto, naquela noite em que voltava da escola e presenciara aquela cena.
Na esquina, bem perto do ponto do ônibus, tinha reconhecido o padrasto que, armado, assaltava uma pequena mercearia. Era ele mesmo, o padrasto, Claudenir sabia. Mesmo com um capuz cobrindo o rosto, havia reconhecido a voz ameaçadora.
Muito mais tarde, o padrasto chegou em casa com dinheiro, peças de presunto, queijo e bebidas.
No dia seguinte, Claudenir contou tudo para a mãe. Para sua surpresa, ela não acreditou e depois de uma discussão colocou o filho na rua.
Foi no meio dessas recordações que o sono chegou e o garoto adormeceu, exausto.
Acordou e percebeu que tinha que fazer alguma coisa para mudar aquela situação.
Lavou o rosto na água armazenada num balde e com as mãos em concha derramou um
pouco do líquido na amiga Verdinha, dizendo:
— Até já, menina! Vou ganhar meu dia.
Claudenir apanhou sua caixa de engraxate e saiu para a rua. No meio da quadra havia uma banca de revistas e jornais. Estava passando por ali quando sentiu algo arranhar seu pescoço. Voltou-se, assustado e percebeu que a gola da sua camisa havia se enroscado num galho de árvore.
Era o galho de um pé de pata-de-vaca repleto de flores brancas que se debruçava por sobre a banca de jornais. Enquanto Claudenir aspirava seu perfume, alguém chamou:
— Menino! Aqui, na banca. Venha cá, não se assuste!
— O que o senhor deseja?
— Esse galho agarra todos que passam. Mas, está tão bonito que fiquei com pena de cortar! Epa! Espere aí... você é o Claudenir, estou certo?
Assustado, o garoto concordou:
— Sou....mas, como...
— Calma! Acabei de ver sua foto no Sampa News. Sua mãe está te procurando. Seu padrasto foi denunciado e preso, acharam provas contra ele.
— Nossa! Preciso voltar pra casa! Mas, não tenho dinheiro, estava indo procurar fregueses para engraxar...
— Eu empresto e depois você me paga, combinado? Corra! Vá pra casa!
— Obrigado, moço! Aceito, sim.
Minutos depois, já dentro do ônibus que o levaria pra casa, lembrou-se que nem sabia o nome daquele novo amigo que o ajudara. Com o nariz apertado contra o vidro da janela, ia olhando, encantado com as flores que via nas praças, nos quintais, colorindo a vida lá fora. Afinal, era primavera na metrópole! Lembrou-se do ipê amarelo, da pata-de- vaca que arranhara seu pescoço e .... da sua amiga Verdinha, a planta que havia brotado dentro da casa em ruínas. Falou alto:
— Vou voltar lá, amanhã! Trarei um vasinho com terra e assim poderei levá-la comigo. . . também vou passar na banca e acertar contas com meu amigo. Estou indo pra casa! Não vejo a hora de chegar lá e encontrar minha mãe.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Confraternização AEI-LIJ SP 2009



Nosso encontro de final de ano aconteceu na Tratoria Moema, um belo e acolhedor restaurante que oferece aos frequentadores cardápio variado preparado com carinho.
Conversamos muito, e, em meio à degustação, até sobrou um tempinho para pensar em futuros projetos. Gente, a comida estava deliciosa! É experimentar para crer!
Naquele momento de alegria e descontração, fizemos um brinde, desejando a todos um Natal de paz e um Novo Ano de realizações.
Cada associado recebeu do Marchi uma caricatura feita ali, na hora. Eu ganhei da Nireuda lindas velas natalinas. Obrigada, Ni! Agradeço também aos que lá compareceram e tornaram nossa confraternização mais colorida.
Ah! Tenho que completar relatando que nos despedimos saboreando a já tradicional
e imperdível pizza de sorvete da Tratoria Moema. HUMMMMMMM!











Barquinho de iguarias orientais.


Buffet de saladas, uma verdadeira delícia!


Massas preparadas e aquecidas individualmente pela "Chef"


Decoração lateral do restaurante "Tratoria Moema", no estilo Gaudi.


Este enfeite natalino foi presente da ilustradora Nireuda Longobardi.

Um texto natalino

UM NATAL ASSIM...

Para uns, a data máxima da Cristandade, para outros, uma data puramente comercial. Pelo menos é mais visível hoje o aspecto mercantilista. Para alguns, nem uma coisa nem outra: apenas um momento de harmonia interior e de preparo para a passagem do ano, quando então o planeta terá cumprido mais uma translação em torno do astro Rei.
Mas, é nós? Que acreditamos no manto da poesia a cobrir as nossas cidades, nós que esperamos pela sociedade onde os homens voltem a ter o olhar do menino. Nós estamos preparados para o Natal? Qual deles?
Fugir da corrente nem pensar. Estamos no mundo, e por mais que não queiramos ele está em nós. Corrida para os presentes, cartão de crédito, crediários, dívidas, panetones...É o espírito do capitalismo dando a sua contribuição. Mas há um Natal a nos espreitar, o tal manto a nos aguardar. E é ele que nos interessa. Um Natal onde o presente renasça com sorriso na esquina do futuro, e rememore os bons momentos.
Para os que acreditaram na justiça e agiram em retidão, para os que divulgaram a poesia, e acreditaram na literatura infantil como o diferencial de aproximação entre adultos e crianças. Para os que não se omitiram diante das falcatruas, os que não sacrificaram o intelecto em benefício de um cargo, para os que acreditaram que sempre vale a pena a conversa, para os que não silenciaram diante do talento do outro, e aplaudiram com olhos marejados o sucesso de um amigo. Para os que não formaram grupinhos fechados e abriram o coração para que todos pudessem divulgar a sua palavra, para os que não usaram os seus relacionamentos em benefício próprio mantendo em silêncio o nome do outro, acreditando piamente que, ao não ser citado, o outro revela a sua própria inexistência, para os que lutaram a cada dia por um mundo menos violento, mesmo que apenas ofertando um sorriso, para esses, e para nós, um Feliz Natal.
Um Natal autêntico, que ultrapasse o sentido religioso, e possa aproximar os homens pela vontade de organizar a felicidade e a alegria. Um Natal que possa permanecer em cada alma, durante o ano, que perfure os bloqueios dos preconceitos, e abra frestas e festas entre as intempéries da rotina, permitindo a cada um que varra os porões da mente, refaça sempre a sensatez onde pedem caos, e remova os entulhos do medo e da incerteza.
Um Natal que seja além da eterna teimosia de se acreditar em confraternizações, e depois, poucos dias depois, permitir que a intenção seja esmagada no cotidiano.
Um Natal que nos identifique com o mais puro querer, com a mais sincera vontade, com a palavra justa, precisa e necessária, que nos devolva o analgésico da amizade verdadeira, a voz acalentada a nos dizer que a vida sempre valerá a pena, um Natal onde possamos ver o menino com seus cabelos bailando na valsa dos eucaliptos, saltando valetas a correr em busca da felicidade, onde possamos contemplar a menina abrindo o seu livro repleto de cores e de palavras, e alargando a luz da sala com o seu sorriso encantado. Nós, da AEI LIJ PAULISTA, desejamos de coração um feliz Natal, assim, de amor.

MARCIANO VASQUES

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Espírito Natalino





Tivemos a ideia, Marchi e eu, de montar um presépio ecológico. Uma amiga muito querida, Heloisa Callegaro, se interessou pelo projeto e ofereceu sua casa para deixá-lo exposto para visitação.Fizemos um passeio ao Parque do Ibirapuera, que fica aqui no bairro e ali, em meio à natureza coletamos parte do material que seria empregado. Recolhemos cascas e folhas de eucalipto de cores variadas, palha de bambu-gigante, gravetos e pedaços de troncos secos. Construímos o berço do menino Jesus com palha de coqueiro. Maria, José e o menino foram feitos com as delicadas e macias folhas de bambu, amarradas. A barba de José foi confecionada com corda de fibra desfiada que encontramos em casa. A estrutura foi montada por meio de encaixes com papelão ondulado, na verdade, uma embalagem de televisão. Vestimos a Sagrada Família com papel crepom colorido que foi o único material comprado.
Que alegria e realização ver o presépio montado! Nossa amiga Heloisa, chamou amigos e vizinhos para conhecê-lo. De forma espontânea, algumas pessoas, animadas com o espírito natalino, fizeram depoimentos emocionantes a respeito de experiências vividas em outros natais. Maria de Lourdes lembrou-se das festivas reuniões da sua infância em Portugal. Ibrahim contou que aos doze anos de idade, viajando de navio do Líbano para o Brasil, foi escolhido entre muitos passageiros para o papel de José no presépio vivo que o capitão montara, no intuito de festejar o Natal no mar. Passageiros, de diferentes partes do mundo, naquele momento se confraternizaram como verdadeiros irmãos. Estava no ar o ESPÍRITO NATALINO!







A AEI-LIJ regional SP deseja compartilhar o ESPÍRITO NATALINO com os queridos amigos e associados. BOAS FESTAS e um 2010 de PAZ, MUITOS LIVROS, SAÚDE E PROSPERIDADE.
Um grande, enorme abraço!


Regina Sormani- coordenadora regional- AEI-LIJ SP

Vice-Versa de Dezembro de 2009



Agradeço a participação das escritoras Georgina Martins (RJ) e Eloí E. Bocheco (SC) neste Vice-Versa de Dezembro.




Respostas de Eloí E.Bocheco

1. O que é literatura para você?

Meu primeiro contato com a literatura foi através da tradição oral . Eu devia ter uns oito anos quando me dei conta que havia uma grande diferença entre as palavras que saíam da boca dos contadores de histórias e declamadores, nos serões, em Duas Pontes, onde passei a infância, e as palavras dos textos referenciais apresentados na escola.
Ouvindo aquelas histórias e poemas eu sentia que as palavras tinham um outro modo de dizer, que eram mais vivas, pulavam , dançavam e podiam encantar, comover, arrebatar. Embora não soubesse elaborar, sentia que havia uma enorme diferença. E, inclusive, me ressentia da falta de tato da escola para lidar com os saberes das crianças que moravam no campo, como eu. Foi uma decepção saber que sombrinha-de-cobra chamava-se cogumelo e que só deveríamos usar “esta” palavra que era “certa, real e comprovada”. “Sombrinha-de-cobra” não era “certa, real e comprovada”, mas, nomeada assim pela cultura popular, era mágica. Quando eu perguntava à minha vó como é que as cobras, tão compridas, podiam usar sombrinhas tão curtas – ela explicava que o maior bem de uma cobra é a cabeça e, neste caso, a sombrinha era perfeita.
Desde este primeiro encontro com a literatura, em suas fontes orais, criei um vínculo que seria para sempre. Cresci sentindo a literatura como um suprimento lúdico – e era assim para grandes e pequenos. Depois de um dia pesado na roça, as pessoas se sentavam ao luar, em tempos de calor, e ao redor do fogo-de-chão, no inverno, para ouvir histórias, declamar, e cantar. Era a hora da beleza, da “outra palavra”, da palavra que, de certo modo, salvava a todos, redimia, da rotina pesada.
Quando fui fazer o antigo ginásio descobri a literatura escrita e me encantei até a raiz dos cabelos com as palavras inventadas, agora, registradas em papel e tinta. Acho que a literatura, para mim, foi desde sempre alimento e salvação. Durante a síndrome de pânico a literatura ladeou com a sertralina no processo de cura. Não largava as Metamorfoses de Ovídio, Don Quixote, os livros de Mark Twain ( altamente curativos), Orlando Furioso ( um bálsamo) os livros de Cecília Meireles e dezenas de outros que se revezaram para me ajudar a sair do buraco. Do mesmo modo que leio para me salvar, também escrevo com esse intuito. Talvez por isso meu livro Pedras Soltas seja livro de cabeceira de muitos leitores, segundo eles próprios me confessam. A Kataherine Paterson, uma autora que amo, fala sobre esse poder curativo da literatura e José Marti também, no que concordo inteiramente.

2. Eu acredito que um escritor escreve sempre uma mesma história que é a dele, ou seja, mesmo quando conta algo que a princípio não tem nada a ver com ele, o escritor está ali presente, costurando pedaços de sua vida na vida de seus personagens. O que você pensa sobre isso?

Só posso falar da própria experiência de escrever e nela me baseio para concordar que a vida do autor, de algum modo, está presente no que ele cria, mesmo que a história não tenha nada a ver com ele. Se crio e dou de mamar a meus personagens durante dias, meses, anos, é esperado que eles tenham algo do meu DNA não é mesmo? Depois desmamam e vão pelo mundo, mas vão com marcas indeléveis de seu criador.

3. Como é para você ser escritor em um país como o Brasil?

Desde os dezesseis anos, quando comecei a lecionar e lutar para envolver gentes pequenas e grandes com livros, aprendi que, no Brasil, livro – e livro literário – tem que ser descoberto, mostrado, apontado, levado e, em muitos casos, lido COM. Gosto muito do título de um Concurso da FNLIJ que é “LEIA COMIGO!”. Num país sem tradição de leitura, como o nosso, é imprescindível LER COM crianças, jovens, velhos na escola, na casa, na praça, nas bibliotecas, nas livrarias, nos cafés, nas ruas, nas salas de ferramentas...
Então, ser escritor, num país como o Brasil requer um trabalho de ajudar o próprio livro a ser descoberto pelos leitores, já que não há uma prática arraigada de leitura espontânea. Uma pessoa pode passar toda a formação básica e universitária sem pisar numa livraria. As bibliotecas das escolas têm recebido acervos ótimos nos últimos tempos, mas noto que( em muitos casos) os livros chegam, são postos nos armários e, muitas vezes, não são lidos. “Ah, tem esse livro na minha escola?!!!” Hoje não há mais a questão do acesso ao livro, como nos anos de 1960, acho que o nó górdio tá na dinamização dos acervos, mostrar as obras, tirar das prateleiras e espalhar no chão, nas mesas, nos varais, nos corredores, no pátio. A cultura de leitura é adquirida, não acontece por mágicas e, para se estabelecer há um longo caminho. Só livros à mancheia não bastam. Centenas de obras desaparecem no sumidouro que são as bibliotecas sem bibliotecários.
Acho que a internet é uma grande aliada dos escritores. No meu caso que tenho complicações de saúde e não posso mais ( ou posso pouco) divulgar os livros que edito, valho-me da blogosfera , que considero valiosa para dar notícias dos livros publicados.


4. Você sabe que sou sua fã, de carteirinha e tudo; por isso tenho muita curiosidade em saber como é o seu processo de criação. De onde e como você retira tantas imagens poéticas, como em Beatriz e Pedras Soltas?

Huizinga diz que a poesia habita as regiões lúdicas do espírito. Acho que todo poético vem dessas regiões. Escrevo sobre o que me arrrebata, atravessa e corta. O Pedras Soltas é quase um acerto de contas poético com a vida. É a memória macerada, decantada e pegada no pulo pela experiência presente com pitáculos do nonsense, que não sei de onde vem, mas desconfio que tenha a ver com vivências da infância . Convivi com adultos que eram lúdicos e não sabiam contar uma coisa qualquer sem exagerar nas tintas, na boca deles tudo ficava fora de si e engraçado. Aquilo me fascinava. Minha mãe, por exemplo, até para dizer que sumiu a tesoura da casa, fazia um piseiro poético tipo assim: “chamem, chamem todos os cachorros, chamem as galinhas, avisem a vaca, chamem o pato pra achar a tesoura que eu sozinha nunca vou achar”. Não é à toa que às vezes sinto que estou escrevendo pela mão de minha mãe.
A memória de profa. influi em muitos pontos de Beatriz – tive alunas que eram leitoras vorazes como essa personagem, e alunos como Samuel. Também conheci muitas “Guiomares” maravilhosas lutando pelo direito à leitura literária, nos lugares mais inóspitos e anti-leitura.





Respostas de Gina Martins


1. Como surgiu a leitora Georgina, a profa. e a escritora?

R.Comecei a ler com quatro anos de idade pelas mãos de minha mãe. Uma mulher que só cursou até o 2ª série do antigo primário, mas que adorava declamar poesias. O maior desejo dela era ser professora, mas a vida lhe reservou o lugar de empregada doméstica em casa de gente muito rica, no Rio de Janeiro, logo depois do fim da guerra.
Aprendi com ela que o livro era a coisa mais importante do mundo. Em nossa casa o conhecimento era a nossa religião.
A primeira vez que li uma palavra inteira foi em uma viagem de bonde: feliz eu li a palavra fubá, estampada nos cartazes de propaganda nas paredes do veículo. Costumo dizer que essa foi a minha primeira viagem coma leitura.
Minha mãe e meu pai me contavam muitas histórias e causos num tempo em que não havia televisão em nossa casa. Não tínhamos dinheiro para comprar livros, mas meu pai me comprava revistinhas de banca de jornais e minha mãe me levava em bibliotecas. Foi assim que nasceu a leitora.
A professora, acho que foi conseqüência. Sempre quis ensinar pra todo mundo as coisas que eu aprendia então resolvi ser professora.
Com o tempo veio a vontade de escrever profissionalmente, para poder contar pra todo mundo sobre as coisas que sinto, que vivencio; sobre o que me deixa triste e sobre o que me alegra.


2. O que a move a escrever?

Uma vontade enorme de mudar o mundo, de acabar com os preconceitos, com a desigualdade social, com a fome, com a miséria e com a injustiça.

3. Como você gostaria que seus livros fossem lidos nas escolas?

Tenho ficado muita satisfeita com o resultado dos trabalhos que os professores fazem com os meus livros. Acho que cada livro pede um tipo de leitura e a leitura que fazem dos meus livros tem me agradado bastante.


4. Na história de leitura de seus livros pelo país afora, que fatos, curiosidades, acasos, descobertas tem acontecido e que chegam até você?
Tem um livro meu, O menino que brincava de ser, que é muito especial. Já recebi notícias de como ele foi importante pra mexer com a vida de alguns leitores, e também dos pais desses leitores, pois o livro fala de aceitação das diferenças. É uma história sobre um menino que deseja ser menina.
Foi o primeiro livro de lit. infantil que foi comentado em uma revista GLS e isso foi muito bom. Dei uma entrevista para a Revista e foi a melhor entrevista que dei até hoje.
Além desse, tenho um outro, Com quem será que me pareço, que mostra os bichos que se parecem com as crianças, então coloquei o mico-leão-dourado se parecendo com um menino bem lourinho, só para mostrar que, assim como os humanos, há macacos louros, negros e brancos; e isso tem dado muito bom resultado.