sábado, 14 de julho de 2012

PÁGINA DO ROSPO — 9




A BENZEDEIRA E O DOUTOR


Rospo, veja! Erva Cidreira!
É mesmo! Brotando no cimento, na beira da calçada.
Isso faz pensar numa pergunta.
Viva!
Qual a diferença entre a benzedeira e o doutor?
Não direi que um é representante da cultura popular e o outro, da cultura acadêmica, científica. Embora, naturalmente, pudesse até ser uma resposta. Mas você quer alguma coisa além, eu a conheço, Sapabela.
Vá em frente, Rospo.
A benzedeira era uma sapa que conhecia o segredo das ervas, das plantas, das raízes...Ou seja, era alguém integrada com a natureza, em sintonia com a harmonia das folhas, com os mistérios da natureza... Vivia numa comunhão absoluta com as forças ancestrais das seivas da terra.
E o doutor?
É aquele que é dotado de um diploma acadêmico, e que exerce o seu conhecimento nos parâmetros científicos.
Ele rejeita a sabedoria popular dessas sapas?
Não exatamente. Não creio nisso. Veja que lá na creche havia um pé de dipirona próximo ao portão.
E o que tem isso a ver?
O doutor até sabe que o conhecimento popular não deve ser desprezado. Mas ele segue firme na sua sabedoria científica, e é nela que a Ciência avança, a medicina evolui.
Muito bem, mas tem uma coisa interessante, Rospo.
Diga, minha amiga.
Está no plano da oralidade, onde flui a comunicação de forma mais eficaz entre os sapos...
Avance.
Tanto a benzedeira quanto o doutor devem olhar em seu rosto e falar com você, se expressar.
Nem ela nem ele pode dar a sua receita sem ao menos dialogar. Não é possível supor que um ou o outro vá tratar de sua doença sem ao menos lhe dirigir a palavra. Acredito que o começo da cura está na palavra, nos olhos, e só depois no remédio receitado.
Sapabela, o que está exatamente querendo dizer?
Que tanto o doutor quanto a benzedeira acumulam e são detentores de um saber que o leigo não tem.
E então?
Tanto ela, a curandeira, quanto ele, o cientista, devem ser sempre solícitos. Devem olhar em seus olhos, e ofertar a palavra, edificar um diálogo...
Continue.
Não basta uma caneta e um papel para uma receita. A melhor receita começa no verbo, na alma aberta.


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