segunda-feira, 18 de março de 2013

Pé de Meia Literário

PÉ DE MEIA LITERÁRIO


30 anos do Programa de Salas de Leitura das Escolas Municipais de São Paulo

O Programa de Salas de Leitura das escolas municipais de ensino fundamental de São Paulo completam neste ano (2013) trinta anos de existência.  Na década de setenta, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo tinha um projeto chamado Programa Escola Biblioteca em prática em algumas escolas. Era um programa centrado em fichas de leitura, dezenas delas para cada livro. Os leitores liam um livro, que fazia parte do acervo, e respondiam durante a leitura a dezenas de fichas  centenas de perguntas. A leitura, do ponto de vista técnico, feita, mas o prazer de ler passava muito longe. Em 1983, há trinta anos atrás, algumas mudanças começaram a acontecer no ensino municipal paulistano. Ventos democráticos sopravam na política nacional, a ditadura dava seus últimos suspiros e  a educação discutia alguns dos princípios de antes. Um deles, o gosto  pela leitura e a organização dos espaços de leitura nas escolas. Uma equipe destacada pelo novo comando da secretaria de foi encarregada de avaliar o programa anterior e propor mudanças, em ritmo acelerado. A equipe, assessorada por professores das universidades públicas, estudou, avaliou, sentiu o momento e propôs: do programa centrado em fichas de leitura o passo seguinte era colocar a literatura no centro da leitura prazerosa. Para isso era necessário desmontar o programa anterior e apresentar uma nova proposta. Isso foi feito, acompanhando novas visões do ensino da língua na escola, ampliando a questão da leitura para a escola como um todo. Foi feita a proposta, baseada em três pontos: criar espaços adequados e amplos, formar permanentemente os professores responsáveis pelas atividades de leitura nesses espaços e ampliar o acervo. Estava assim criado o Programa de Salas de Leitura das escolas municipais de São Paulo. Algumas coisas foram deixadas para trás e outras precisavam ser feitas. De cara, entendeu-se que os espaços para as atividades de leitura não poderiam mais ser adaptados, escondidos, apertados. A Sala de Leitura merecia uma sala própria, do tamanho de uma sala de aula. Uma sala que pudesse acomodar mesas e cadeiras, prateleiras, muitos livros e...alunos e professores. A disposição dos móveis e dos livros ficou por conta da criatividade da equipe escolar. Os móveis novos começaram a chegar e os livros em boa quantidade. Também ficou entendido que cada Sala de Leitura deveria ter um – ou mais – professor responsável pelo espaço, pela organização e pelas atividades ali desenvolvidas. Não mais um professor qualquer, alguém afastado da sala de aula: um professor com perfil apropriado para o novo trabalho, principalmente alguém que fosse ou quisesse se formar como leitor. Escolhidos, esses professores tinham curso de formação inicial e, depois, permanentemente encontros bimestrais para troca de experiências, discussões, leituras, palestras, etc. A formação dos professores orientadores destas salas de leitura focava o prazer da leitura, a qualidade do material e das atividades, a diversidade de atividades, a freqüência semanal dos alunos ao espaço, o professor das classes como leitor parceiro e a visão da leitura como poderoso instrumento de aprendizagem. 
O acervo foi o outro ponto  desse tripé  que teve  um tratamento  especial. Paralelamente ao boom da literatura infantil e juvenil de autores brasileiros, os acervos começaram a crescer, a ter reposição anual e contar com a participação dos professores na indicação de livros para a compra. Variedade, diversidade, atualidade. Ao longo dos anos seguintes, o Programa de Salas de Leitura foi crescendo, cada ano com mais e mais escolas recebendo acervos, mobiliário e professores bem formados. O bicho pegou! Hoje, trinta anos e diversas administrações municipais depois, chuvas, trovoadas, raios, relâmpagos, nada abalou o programa, que continuou crescendo e se fortalecendo. É, certamente, o programa de incentivo à leitura e formação de leitores em redes de ensino públicas mais longevo de que se tem notícias. Sabe por que eu sei essas coisas? Porque eu estava lá, coordenando a equipe que legou para a história da educação municipal de São Paulo e do Brasil uma das experiências mais ricas, interessantes e duradouras. E, neste 2013, quando muitas redes públicas de estados ricos ainda patinam e não têm propostas minimamente razoáveis para a questão da leitura, eu troco a saudade pela certeza de que quando se quer é possível fazer e fazer bem feito. Os caras que descobriram ou - inventaram - o Brasil já sabiam: em se plantando tudo dá! Parabéns ao Programa de Salas de Leitura das Escolas Municipais de São Paulo e a todos os que de um jeito ou de outro contribuíram para essa história de sucesso.


EDSON GABRIEL GARCIA
Escritor e Educador

8 comentários:

  1. Oi, Edson, que bom que você lembrou! Eu também estava lá e adorei cada momento. Alíás, tudo o que aprendemos e construímos como grupo ilumina a minha vida até hoje. Beijos a todos os companheiros. América

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  2. Olá, Edson Gabriel!!

    Só você mesmo para ter uma iniciativa maravilhosa como esta.O ex-jogador Romário estava totalmente enganado: ele não é O cara; você é O Cara!!!

    Parabéns!!!

    Abração!

    Tadeu

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  3. Parabéns pelo texto Edson e obrigada por continuar incentivando essa molecada a ler. Obrigada também pela parceria com a Escola Zacaria.
    Um grande abraço!
    Socorro Lacerda de Lacerda

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  4. À época (1979 a 1983) eu tive dimensão da competência e garra do Edson. Mas só hoje percebo que o colega entendia a dimensão histórica de um sonho e que isso faz a diferença. Saudade dos bons momentos de criação pedagógica e da juventude didática que vivíamos e possibilitávamos que outros compartilhassem.

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  5. Oi Edson, eu tb estava lá naquele início e foi bom relembrar. Ótima a sua iniciativa de refazer a trajetória.Algumas coisas n~]ao devem ser esquecidas.
    Beijão da Lidia Izecson

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  6. Oi Edson. Adoraria que o Programa da sala de leitura chegasse à EMEI. Bjos Wilma

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  7. Amigo querido,Parabéns!Sou sua fã!bjs
    Silvana Canonico

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