domingo, 1 de julho de 2012

PÁGINA DO ROSPO —7


DIÁLOGOS ANCESTRAIS



Rospo, precisa ser um pouco vaidoso.
A vaidade deixo com exclusividade para você, Sapabela. Uma sapa vaidosa é tudo de bom.
Hoje, Rospo, o sapo também se preocupa com a aparência. Ele também se cuida.
?
Se ficou mudo é sinal de que vai pensar. Promete? Vai?


Sapabela, certa vez um professor de Metafísica comentou em tom debochado: "Os gregos tinham deuses para tudo".
Promete que vai pensar, Rospo?
Eu fiquei anos pensando na fala daquele professor...
E então?
Então esperei o dia em que eu viesse a compreender essa questão.
Com o professor?
Não! Com os gregos.
E chegou a alguma conclusão?
Fiquei emocionado ao saber que a imaginação ocupou de forma tão profunda e criativa o espaço  do conhecimento científico que eles não tinham.
Isso é fascinante. Emocionante. Maravilhoso!
Verdade. Na ausência  do conhecimento científico a imaginação exerceu o seu poder numa expansão jamais vista nos tempos que viriam. Terremotos, vulcões, ondas, vagalhões no mar, noite, tempestades...Tudo isso deu origem à monstros, criaturas terríveis, e também deuses, titãs, deusas...
É de fato encantador, a incompreensão dos fenômenos da natureza engendrou um universo de deuses e criaturas jamais vistas em qualquer outro tempo
E tem mais.
É?
Os mitos são tesouros da mente humana, atravessando milênios.
Por que diz isso, Rospo?
O mito se refere ao seu interior, à sua mente, ele estará dentro de você...Se você tiver o dom de ouvir.
Ouvir virou dom?
Em nossos dias sim.
Então, o mito diz sobre nós, ele fala ao nosso interior, ao ser de cada um, ele  tem mensagens para a alma de cada um.
Isso, Sapabela. São mensagens entesouradas em nós. Cada um deve procurar a sua conversa com o mito...E permitir que ele entre dentro de si, o lugar sagrado...
Sagrado?
Sim, dentro de cada um colidem universos, mundos... Reinos...
Reinos?
Exato. Dentro de cada um está o céu, e todos os mundos... E o reino Daquele que é. E muitos já sabem: Ele é em você.
Rospo, tem sapo que já escreveu isso.
A palavra, Sapabela, está numa corrente universal infinita e pertence à todos. Quando ela sai do papel e penetra no interior de alguém, esse alguém torna-se portador da palavra. E se alguém escreveu algo sobre os mitos nos tempos dos tempos, esse alguém nos herdou, nos devolveu a necessidade de ouvir, ou ler. Por isso, como eu já disse, procure salientar a sua conversa com o mito. E não se esqueça, tudo isso está num plano superior. Basta simplesmente ser portador da coisa mais difícil.
O que vem a ser essa coisa mais difícil?
O "Querer".
Coisa mais simples.
Vai pensando, vai pensando...
Rospo, ouvir uma narrativa mítica é ouvir. Não conversar.
Ouvir verdadeiramente é uma forma de conversa. E quando você se inclina para o chamamento do mito, você já está em pleno diálogo dentro de si. Ouvir nesse caso é uma ação dialógica.
Eu sempre leio.
É o passeio ancestral dos olhos.
Rospo, que bom me dizer essas coisas, mas, fale: vai pensar no que eu falei sobre o sapo também ser vaidoso? Lembre-se: a boa vaidade melhora o mundo.
Sapabela, você não desiste?
Por acaso já procurou o significado do meu nome?
Não. Qual é?
Sapabela significa "Aquela que não desiste".
Impressionante!

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